Que a masculinidade é uma coisinha
frágil e mal fundamentada, nós já sabemos, mas estamos atingindo níveis
alarmantes de retrocesso num processo que deveria ser de amadurecimento. Ultimamente
me parece que toda produção artística, cultural ou midiática voltada exclusiva
ou centralmente para o gênero masculino é uma releitura capenga do conto de Fitzgerald
“O curioso caso de Benjamin Button”. O conto, não o filme, pois no texto a
lamentável infantilização do homem, desde a juventude, fica ainda mais evidente
e menos romanceada que a versão cinematográfica, que garantiu um pouco mais de
brilho para o personagem, ao criar uma personalidade menos alegórica e mais
voltada para uma subjetividade, bastante beneficiada pela relação com Daisy
(Cate Blanchett). No conto, por outro lado, a personagem feminina é tão
genérica quanto a masculina e nem mesmo o ambiente fantástico criado pelo autor
é capaz de desviar nossa atenção da lamentável degradação da personalidade
masculina em uma sociedade que cultua uma juventude imatura e esvaziada.
Enfim, os homens parecem estar
eternamente presos em um ciclo de “degradação reversa”, uma busca desesperada
pela eternidade, pela juventude, nem que seja sustentada pela exploração da
vitalidade do outro, na verdade, quase sempre “dA outrA”. Como se não bastassem
os muitos debates e estudos nas mais diversas áreas do conhecimento para comprovar
a iminente crise, a mídia ainda dá uma forcinha para tornar a coisa ainda mais vergonhosa
para os machinhos de plantão. Para mim, o golpe de misericórdia foi o tão
esperado “Batman vs Superman: a origem da justiça”.
Primeiramente, quero deixar
muito bem explicado que não estou comentando a HQ, trata-se de uma leitura
unicamente da produção cinematográfica e suas interpretações no contexto atual,
portanto, não me julguem! Vendo esse filme percebi o que sempre me incomodava
nos filmes do Batman e que adorava nos desenhos, por exemplo, nos filmes ele
sempre é o último a saber, ele nunca descobre a trama antes de todo mundo,
nunca se antecipa ao vilão. Fico esperando o cara sagaz que supera os super
poderes de alienígenas e seres míticos, somente por algo que o torna tão
fascinante: sua humanidade...e uma boa dose da fortuna incalculável de seus
pais, mas sejamos generosos com o rapaz.

Por outro lado, tem o super
carente “ninguém me ama, eu não tenho pátria nem amor”, Santo Freud onde está você???
Mais um super que não consegue ver além do próprio super umbigo. Pelo menos
Metrópolis é um pouco menos devastada que Gotham e ele é só um trabalhador. além
de ter sido criado no interior, debaixo da asinha quente da mami e do papi. A briguinha
entre os dois super mimados beira o ridículo: dois homens adultos odiando-se e
julgando-se por agirem exatamente da mesma forma. Para a sorte da população
masculina, Alfred (Jeremy Irons) é uma voz de sensatez e maturidade em meio ao
mar de testosterona do “super eternamente jovem” e do “eternamente jovem de
meia idade”. Mesma maturidade presente, como sempre, nas personagens femininas,
as mães do filme são a salvação da lavoura, literalmente. Quando falo em mãe,
isso evidentemente inclui a pobre da Lois Lane (Amy Adams), responsável por
fazer os meninos darem as mãos e ficarem de bem. Depois de um conflito que
poderia ter levado à morte de um dos maiores super heróis do mundo, é a
lembrança do nome da mamãe que faz o velhinho entender que ele e o alien
estavam do mesmo lado. Pronto, conflito superado em 30 segundos e algumas emoções
mais que forçadas.

O saldo do confronto do século
entre os maiores heróis da DC
é que, como no mundo, as mulheres ahazam ;)