terça-feira, 20 de novembro de 2012

Consciência de ser negro!!!



Nesse dia da Consciência negra sou feliz por ser tão consciente da minha negritude! E que orgulho! Que honra fazer parte desse povo tão lindo, guerreiro e forte. Só lamento que tantas pessoas ainda se deixem levar pelo discurso da defesa da igualdade de forma tão esvaziada política e ideologicamente. Sem pensar no real significado de sermos iguais, sem sair da mesquinharia da generosidade cristã mal interpretada e mal pregada que vemos por aí. Quando lutamos contra o racismo, afirmamos e reafirmamos as opressões contra o povo negro não estamos nos vitimizando. Os povos africanos não declararam guerra aos brancos, não houve disputa de território, houve apropriação e exploração de um continente inteiro, que foi devastado de todas as formas que um território e seu povo podem ser.Vítima? Chamem do que quiser, eu chamo de covardia!
Pensando em contextos de guerra e disputas de poder devemos nos perguntar,  por exemplo, porque o massacre dos negros no continente africano e na diáspora nunca é reconhecido e o holocausto sim? Porque a sanha de poder dos brancos sempre tem recompensas e retratações, quando atingem povos brancos enquanto os negros permanecem sem o reconhecimento nem mesmo do erro, da barbárie e da brutalidade de que foram e ainda são vítimas??
Nunca recebemos retratação pelos anos de escravidão, até porque os brancos nem mesmo se reconhecem como responsáveis por ela; não recebemos retratação pelos regimes de apartheid racial nos EUA e na África do Sul; não recebemos retratação pelos séculos que fomos considerados, cientificamente, animais ou seres humanos inferiores, não recebemos anistia de nossos heróis de guerra – Mumia Abu-Jamal continua preso, pagando o preço por não se render. Ao contrário, tivemos que nos retratar quando lutamos por nossa liberdade no Haiti, tivemos que nos retratar quando formamos quilombos e focos de resistência ao regime escravocrata, tivemos que entregar as riquezas do Continente africano, e temos que baixar nossas cabeças sob o jugo da polícia, dos seguranças e das patrulhas brancas higienistas que nos massacram diariamente, única e exclusivamente pela cor de nossa pele.
Dia da Consciência negra não é um dia em que lutamos para sermos reconhecidos como negros, mas o dia em que lutamos para que cada negro tenha orgulho do que é e consciência de que ser negro é ser um povo, é sofrer e sangrar com cada um de nossos ancestrais e irmãos que sofrem e sangram sob o peso da chibata e dos grilhões do racismo, da humilhação, do preconceito e da ignorância.
No Dia da Consciência Negra queremos lutar pelo direito de sermos seres humanos inteligentes, sensíveis, criativos, guerreiros, fortes e dignos, tudo que nos foi negado ao longo dessa história de mentiras e ilusões que nos contaram.
No Dia da Consciência Negra lutamos para que o mito da democracia racial, tão atraente e convidativo, deixe de ser um mito e se torne a realidade, não apenas de nosso país, mas de todo o mundo. Porém entendemos que lutar por igualdade não significa fingir que a discriminação, o preconceito e todas as suas consequências nefastas não existem. Ao contrário, para lutar contra o racismo precisamos mostrá-lo, precisamos enxergar sua face mais assustadora e hedionda. Só assim teremos um inimigo concreto a combater, dentro de cada um de nós, pois somos todos formados para sermos racistas, machistas e homofóbicos, e também na realidade social por meio da luta por políticas públicas que combatam de forma exemplar qualquer manifestação de preconceito. 
Só assim será possível pensarmos em humanidade e igualdade em seu conceito mais amplo.

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