quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Aquarela...

Quando é que vai parar de doer?
Essa era a pergunta que não lhe saía da cabeça.
Quando pararia de reviver aquilo que nunca aconteceu?
Até quando iria repassar em sua mente e em seu coração as lembranças de um amor que só existiu pra ela?
Esquecido ou talvez jamais lembrado ou vivido pelo outro lado, o outro a quem se destinou tanta paixão.
E afinal porque era preciso ter um outro?
Porque não podia ficar com seu sentimento só pra si?
É como se tudo tivesse se espatifado contra um muro de indiferença que sempre esteve lá, altivo e implacável diante de seus olhos, mas ela não queria ver, apenas enxergava os belos desenhos aquarelados que ilustravam uma existência idílica e fascinante como ela sempre sonhou.
E esses sonhos foram sendo pintados um a um, com as cores fortes da paixão. O beijo ardente e intenso, calmo e profundo que incendiava sua alma, passando antes por todo o seu corpo que palpitava por cada pedacinho de seu outro, seu outro eu, sua outra metade, ali diante dela, dentro dela, confundido com ela, grená, rubro, vermelho, carmim, escarlate sangrou o cinza endurecido daquele muro e o fez ferver de dor e delícia.
Sob esse calor escaldante ela já previa que a intensidade das cores não permaneceriam, mas em seu delírio reconfortante o escarlate agressivo se tornaria um rosa calmo e límpido, marchetado de lilazes e amarelos suaves e tranqüilos como deve ser o amor, mas de tempos em tempos ou há espaços do grande mural de seus sentimentos vibrariam com uma rajada de vermelho vivo, de desejos e paixões intensas.
Aos poucos o quadro de sua linda história de amor ia se formando diante dela, ainda mais colorida e vibrante do que poderia imaginar e mais devastadora também. Cada dor doía mais forte, cada decepção cortava mais fundo e tudo era pra sempre. Ela experimentava a eternidade a cada dia sem notícia, a cada atitude indiferente, a cada embotamento do desenho lindo de suas esperanças, construídas sobre a indiferença do outro que ela julgou conhecer tão bem e se propôs a amar tanto.
Sim, toda a sua felicidade estava esboçada sobre uma tela frágil e com material precário, mas para ela era uma obra-de-arte, a construção de uma vida. Porém sua grande obra não sobreviveu à reação do cinza, obscurecido pela alegria e agitação das cores de seus sentimentos empenhados para a felicidade de seu outro, a indiferença plúmbea surge em uma borrasca devastadora e transforma sua felicidade em um longo rio multicolorido de sentimentos confusos e atordoantes que agora a acompanham e tentam reencontrar seus lugares...
Mas que lugares? Onde? Em quem? Nela? Nele? Dela? Dele?
Como reconstruir essas fronteiras? Como delimitar um ela, depois de tanto tempo sendo um nós único e perfeito?
Decide deixar as cores se fundirem mais e mais, navegar no rio perigoso e violento dessas sensações e deixá-las dominar os espaços, todos os espaços em que seja possível sentir, em que seja preciso amar.

3 comentários:

  1. Porque a pessoa vai então se desenvolvendo um grau de dependência: pra estar feliz, precisa estar com o outro, sozinho não se basta mais. E essa a doloreza toda do amor não? Dói esse negócio de que, sozinhos, não nos bastamos mais.
    Jamais quereria estar na pele desse personagem; a dor dela parece imorrivel (como diria hilda hilst), assustadora...
    arrasante, gata.

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  2. Adorei!!! E acho mais...as pessos tem a mania de, quando começam um relacionamento entregarem a responsabilidade de ser feliz na mão do outro. "_Toma, me faz feliz!"
    A responsabilidade da nossa felicidade(redundantemente,rs) é nossa, nossa, só nossa!!!

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  3. Nossa meninas, mto obrigada, acho que o grande barato de publicar o que se escreve em algo como um blog ou uma rede social é esse tipo de retorno. Vcs me fizeram pensar as coisas por uma perspectiva que não tinha qdo escrevi.
    Mto obrigada meeeeeeesmo!!!

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