quarta-feira, 18 de maio de 2011

A brincadeira continua... mas agora a coisa tá preta!!!

Aposto que a negrada toda ficou muito feliz ao descobrir que teríamos, finalmente, um casal negro, bem sucedido, da alta sociedade e juntos!!! No horário nobre da toda poderosa Rede Globo de televisão!!! Bem, eu fiquei feliz demais, pensei: agora a coisa vai, agora sim os negros desse país vão perceber que não PRECISAM de relações interraciais para serem felizes, vão valorizar a beleza negra, o amor negro, a família negra!! Sem as caricatices que já aconteceram antes, em tentativas mais que frustradas de inserir o negro nesse tipo de produção cultural, como nos mostra o documentário A negação do Brasil.

Enfim, acreditei que dessa vez seria diferente. Doce ilusão!! Nada mudou!! Ou melhor, mudou sim e pra pior. A terrível política de branqueamento que nos cega desde a abolição, mas que ainda não conseguiu atingir a meta idealizada pelos eugenistas de plantão, hoje ganha um aliado de peso: a toda poderosa Rede Globo de televisão!!! A importância da mídia na sociedade contemporânea desperta a curiosidade de muita gente, mas a maioria não percebe o perigo do tipo de “condicionamento” ideológico que produções como as novelas proporcionam. Entendo a luta de atores e atrizes negr@s para tomar esse espaço, porém agora que estamos lá devemos nos perguntar a que viemos, qual o nosso papel e nossa contribuição para as lutas históricas de nossos irmãos e irmãs.

A atual novela da nove é o foco dessa discussão, para quem não sabe o nome da novela é Insensato Coração, imagino que muitos não saibam, afinal não vale a pena perder tempo com “esse tipo de coisa”. Quero apenas lembrar que é “esse tipo de coisa” que nosso povo assiste e por vezes é somente daí que tiram opiniões e informações sobre as polêmicas atuais, como homossexualidade, drogas, gravidez na adolescência e muitas outras, inclusive questão racial que é o tema que tem me incomodado no momento. Em Insensato Coração Camila Pitanga é Carol uma empresária de classe média alta apaixonada por André (Lázaro Ramos) do mesmo nível social que ela, talvez mais rico e ambos negros. Mas ele é um garotão, que vive em uma busca incessante por auto-afirmação através de suas conquistas; mulheres com quem ele quer apenas sexo, na grande maioria das vezes, mulheres brancas.

Não quero parecer paranóica, mas desconfio que esse tipo de homem negro alegraria muito estudiosos como Nina Rodrigues, manter a idéia de que os negros não tem possibilidade de manter uma relação “saudável” dentro da nossa sociedade é mais que conveniente para manter certos lugares sociais, ele está na classe média, mas preserva seu primitivismo selvagem ancestral. E arrematar o debate jogando a mocinha enganada e abandonada pelo canalha negro nos braços de um homem branco responsável, amável, dedicado à família, seguidor dos valores cristãos, enfim, um mocinho da Globo, traz a solução perfeita para a questão: os negros conseguem se inserir na sociedade e até na alta sociedade, porém não sozinhos, não apenas entre eles, é necessário um branco para apresentar os verdadeiros valores de uma família cristã burguesa, clarear a família né...

Eu poderia dizer que é praticamente uma releitura d’O Guarani, se o mocinho em questão não estivesse na terceira idade. Obviamente a mocinha negra não ficou com o galã branco, jovem, bonitão, fiel, de bom caráter, perfeito, maravilhoso e absolutamente fora da realidade, no caso Pedro Brandão (Eriberto Leão)... Não!!! Esse fica com a loirinha frágil e delicada Marina Drumond (Paola Oliveira), para Carol sobra o pai do mocinho, olha que beleza!!! Bonita, rica, inteligente, descolada, o retrato da mulher moderna, independente, que assumiu uma gravidez mesmo sem a participação do pai – o irresponsável amante negro – para realizar seu sonho de ser mãe. Essas são as características de Carol que vive um romance com Raul (Antônio Fagundes) um homem quase idoso, com idade para ser seu pai.

Isso porque ela percebe a impossibilidade de manter um relacionamento com André (Lázaro Ramos), a quem ela de fato ama. Sabemos que as novelas obedecem ao gosto do público e conhecendo meu povo como imagino que conheço, aposto que todos estão adorando ver a mocinha encontrar o verdadeiro amor nos braços de um homem de verdade, então o que vai acontecer com esse amor por André??!! Elementar... o que negros sentem, o que sempre sentiram não é nem nunca foi amor, esse é um sentimento humano demais, branco demais para eles que tem é instinto, mais adequado à sua espécie, tesão, impulso sexual, apenas. Sem tentar ser futurista, mais como uma novelista de plantão, vou tentar imaginar os rumos dessa história... a não ser que haja uma reação forte por parte do movimento negro, logo veremos Carol se abrindo a sua amiguinha branca Marina sobre como foi boba em pensar que aquela paixãozinha vazia que sentia por André poderia ser algo mais. Agora que ela tinha um homem de verdade tudo ficou muito CLARO.

Mas não acaba por aí... Enquanto a mocinha jovem se delicia com o idoso (ou o contrário...); o mocinho de 30 e poucos se envolve com a adolescente rebeldezinha, sim... um romance se anuncia na vida de André, uma garotinha de uns 19 anos talvez está balançando o coração do rapaz, podemos chamá-lo assim por se tratar de um homem negro, eles jamais crescem, não pela sua idade... mas convenhamos, o que é essa onda das novelas?? Não existe mais vida sexual ou amorosa para as mulheres com 40 anos ou mais. A moda agora é que os homens maduros precisam de mulheres mais novas, ou melhor, as mulheres mais jovens precisam de um homem que as protejam. O mais engraçado é o horror da sociedade diante da pedofilia, mas será mesmo que ainda ficam horrorizados ou é melhor aceitar que as meninas andam muito saidinhas hoje em dia e homem... você sabe como são os homens...

Como era mesmo a regra do islã para o homem escolher a sua esposa?? A metade da sua idade menos sete anos, é isso?? Ainda bem que somos um país avançado onde as mulheres são respeitadas e tratadas como iguais... Não posso deixar de lembrar das palavras de Tom Zé nessas horas...

Em muitos países do mundo a garota
Também não tem o direito de ser.
Alguns até costumam fazer
Aquela cruel clitorectomia.

Mas no Brasil ocidental civilizado
Não extraímos uma unha sequer,
Mas na psique da mulher...
Destruímos a mulher.

(Proposta de amor)

3 comentários:

  1. Mary, queriiiiiiiiiiiiiidddddaaaaaaaaa....arrasou!!!!
    É bem isso mesmo a novela Insensato Coração, e o pior, vc não comentou, mas o pai de Andre (Lázaro Ramos) o ator Milton Gonçalves é um acoolatra, só pra variar, neh?! Dai querem mostrar que o negro consegue por conta propria vencer na vida...ah....meu edi pra eles, to boa....quer dizer, meu edi, não, neh?! Ele vale muito....hehe....

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  2. Mary, não vejo novela sempre por achar por demais alienante mas sua análise é corretíssima no que tange a origem do pensamento comum e moda de fato não só a novela mas a televisão como um todo tem esse poder.
    Ainda não vejo avanço de qualidade no papel que negras e negros fazem nas novelas, as artistas negras (os) até fazem papel de pessoas bem sucedidas desde que as relações pessoais do personagem sejam inter-raciais, isso é proposital, a televisão é um braço de "formação" do sistema. Enquanto os próprio artista negro e negra, que são a referência artística da população, não se levantarem contra o sistema continuarão interpretando, profissionais do sexo, traficantes, agiotas, escravos, domésticas e um longo etc.

    Um grande abraço

    Alessandra Rosa

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  3. Pois é gentes, um bafão mesmo, né. Já faz um tempão que queria falar sobre isso. Concerdo com vc Alessandra que os atores e atrizes negros e negras precisam se posicionar, por mais importante que seja estar nesses espaços precisa ser uma participação qualificada, ora!! Senão a emenda sai pior que o soneto (é assim mesmo o dito popular?? hahahaha)

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